Unidade e luta dos vigilantes <br>para combater a exploração
No sector da segurança privada, actualmente com perto de 40 mil trabalhadores em todo o País, as condições laborais degradam-se à medida que se intensifica a concentração empresarial e a desregulação da legislação laboral. O PCP está empenhado no reforço da sua organização e intervenção no sector para que os trabalhadores conquistem direitos e melhorem as suas condições de vida.
O incumprimento dos direitos e da lei é generalizado no sector
Foi para conhecer com profundidade a situação profissional destes trabalhadores e as tendências da sua evolução, e para saber mais sobre as posições e perspectivas do Partido para o sector, que o Avante! conversou com os membros da Coordenadora Nacional do PCP para a segurança privada. Este organismo coordena a actividade das organizações dos comunistas que trabalham como vigilantes e seguranças em várias empresas e regiões.
Como só se transforma uma realidade que se conhece, a conversa começou precisamente com um retrato profundo e preciso da situação actual do sector e das condições de trabalho e de vida dos seus trabalhadores: em termos numéricos, o universo dos trabalhadores deste sector ronda os 40 mil, a maioria dos quais (69 por cento) concentrados numa dezena de empresas. Destas, um núcleo ainda mais restrito representa a fatia de leão dos trabalhadores e do volume de negócios: Prosegur, Securitas, 2045, Esegur e Charon/SOV, podendo ainda incluir-se neste grupo dominante a Strong e o Grupo 8.
Outras, como por exemplo a Prestibel, estando ainda longe das maiores, tem vindo a crescer rapidamente nos últimos anos, muito pela presença em locais como as grandes superfícies, autarquias e serviços do Estado. Mas a realidade é mais vasta, como se pode constatar estudando o «Relatório Anual de Segurança Privada», de 2015. Nesse ano, encontravam-se registadas 92 entidades prestadoras de serviços na área da vigilância e mais 36 na vertente de «autoprotecção», na grande maioria pequenas empresas. A situação em 2017 não será muito diferente.
Longe de traçarem um retrato estático à realidade, os comunistas que trabalham e intervêm no sector apontaram as linhas gerais do seu desenvolvimento recente, observando desde logo o acentuado crescimento verificado nas últimas décadas. Beneficiando de alterações legislativas feitas à medida dos seus interesses, os grandes grupos do sector cresceram enquanto as empresas privadas e serviços da administração pública central e local foram substituindo trabalhadores dos seus próprios quadros por vigilantes contratados a entidades especializadas.
Constante desvalorização
No que respeita à situação laboral dos trabalhadores da segurança privada, traçado pelos comunistas da Coordenadora Nacional, sobressai um panorama pouco animador: os salários e direitos dos seus trabalhadores, que nunca foram particularmente valorizados, têm-se vindo a degradar nos últimos anos, em relação directa com o processo de concentração empresarial, a chamada «liberalização» da legislação laboral e a complacência do Estado para com as constantes violações da legalidade por parte do patronato.
O desemprego tem vindo a aumentar no sector nos últimos anos à medida que avança a concentração de empresas em poucos grandes grupos. Os baixos salários e o congelamento consecutivo do seu valor é outro dos principais problemas com que os vigilantes se confrontam no seu dia-a-dia, relataram os comunistas, que o ligam directamente ao facto de o Contrato Colectivo de Trabalho do sector não ter qualquer actualização desde 2011. O salário destes trabalhadores e esta profissão estão a ser desvalorizados, sublinhou um dos dirigentes comunistas presentes na entrevista.
Foi também realçada a precariedade em que trabalha grande parte dos vigilantes em Portugal, quer no que diz respeito aos vínculos quer às condições de trabalho. Esta ideia foi reforçada sublinhando-se que «mesmo os trabalhadores com vínculos permanentes se encontram em constante insegurança». Durante anos, lembram os dirigentes e quadros comunistas, existiu no contrato colectivo do sector uma cláusula relativa à «transmissão do posto de trabalho», que salvaguardava a permanência do trabalhador num determinado local independentemente da substituição da empresa de vigilância contratada, que era obrigada a integrar aquele vigilante nos seus quadros. Como outras, esta importante cláusula desapareceu do CCT do sector da segurança privada em 2014.
Esta questão, sublinham os comunistas, remete para uma outra, presente em toda a conversa: a constatação de que para além do frequente desrespeito patronal pelas garantias e procedimentos consagrados na contratação colectiva, é também um facto que esta sofreu golpes profundos nos últimos anos, garantindo hoje muito menos direitos aos trabalhadores. Apesar desta realidade, acusa a Coordenadora Nacional do PCP, o patronato do sector não está satisfeito e procura impor a caducidade do contrato colectivo para forçar uma ainda maior degradação das condições de trabalho.
As exigências colocadas para a formação e creditação dos vigilantes, cujos custos são muitas vezes assumidos pelos próprios, assim como os do fardamento; a entrega tardia das escalas de turnos pelas empresas; a desregulação de horários e o não pagamento de horas extraordinárias conforme com a lei; e a ausência, na maior parte dos locais de trabalho, de balneários e refeitórios são outros dos problemas mais sentidos por parte dos trabalhadores do sector.
Por resolver permanecem ainda questões relacionadas com as categorias profissionais e respectivos vencimentos. Para os comunistas, é incompreensível que os vigilantes que prestam serviço nos portos marítimos não sejam equiparados aos que o fazem nos aeroportos, sendo que a tarefa é em tudo semelhante.
O problema da dupla tutela
A dupla tutela sobre o seu trabalho é outra das questões mais sentidas pelos profissionais da segurança privada, que ao mesmo tempo respondem à empresa com a qual têm contrato e aos responsáveis pela entidade – pública ou privada – na qual prestam diariamente serviço. Em grande parte dos casos, esta situação leva a que o vigilante seja, como afirmou um dos quadros comunistas que integram a Coordenadora Nacional, «pau para toda a obra»: maqueiro ou funcionário administrativo, se trabalha num hospital ou centro de saúde; repositor, se presta serviço num supermercado; recepcionista e telefonista, se estiver numa qualquer empresa ou serviço público; descarregador e controlador de carga, se for o caso de estar numa fábrica ou armazém.
Esta prática generalizada não tem apenas implicações na vida profissional dos vigilantes, que, lembre-se, têm tarefas definidas por lei e para as quais é exigida formação e requerida credenciação oficial. Em muitos casos, ela acaba por servir para que as empresas e serviços onde trabalham abram mão de muitos outros trabalhadores, passando indevidamente tarefas para os vigilantes. Mais grave ainda, realçam os comunistas, é que muitas vezes esta situação decorre do conluio entre as empresas de segurança e as entidades que as contratam e a ajuda, por acção ou omissão, do próprio Estado. A forma dúbia como a lei está redigida também contribui para a disseminação destas práticas, acrescentam os comunistas.
A dupla tutela tem ainda outras implicações para os vigilantes, com consequências negativas nos seus salários e na afirmação dos seus direitos. Em diversas situações em que os vigilantes se recusaram a obedecer a ordens dos responsáveis pelas empresas e serviços onde se encontram a trabalhar, que não são sequer os seus patrões, foram alvo de queixas e deslocados para outro local de trabalho – em alguns casos, bastante distante da sua residência.
Mais Partido é mais luta
A determinação dos comunistas em intervir de forma mais incisiva no sector da segurança privada não é de hoje. Há muito que em várias zonas do País o PCP conta com militantes organizados em várias empresas deste sector e dirige a sua intervenção junto dos trabalhadores, centrando-a nos principais problemas que os afectam nos locais de trabalho. A distribuição de comunicados e boletins contendo as suas posições e propostas para o sector e apontando o caminho da resistência, da unidade e da luta dos trabalhadores para defender e conquistar direitos é uma linha de acção que se tem revelado particularmente frutuosa.
Em resultado desta intervenção – e apesar das dificuldades colocadas, por exemplo, pela enorme dispersão de locais de trabalho – a voz dos comunistas é cada vez mais ouvida e respeitada junto dos trabalhadores do sector, que têm vindo a filiar-se no Partido. Esta maior afirmação do PCP e das suas propostas levou a um aumento da capacidade reivindicativa dos trabalhadores, que demonstram hoje uma «maior disponibilidade para a luta nos locais de trabalho». Independentemente do muito que se perdeu, lembra um dos militantes que trabalham no sector, esta luta já permitiu «defender muitos direitos».
Este balanço foi relatado ao Avante! pelos membros Coordenadora Nacional do PCP para o sector da segurança privada, que relaciona igualmente os avanços alcançados com a própria regularidade do seu funcionamento. Da última reunião sobressaiu a convicção de que a realidade de um sector marcado por uma crescente precariedade, com condições de trabalho cada vez mais desreguladas e pelo aumento do desemprego, impõe que sejam dados novos e mais decisivos passos no reforço da organização e intervenção do Partido. A intensificação da luta e o reforço da organização são as duas principais prioridades da acção dos comunistas, profundamente interligadas entre si.
As células do Partido no sector defendem o respeito pelos direitos consagrados na contratação colectiva e a recuperação de outros, entretanto retirados, e a valorização salarial, com vencimentos-base de 700 euros para a categoria de «Vigilante»; 811,15 euros para «Vigilante aeroportuário» (que deveria integrar também os vigilantes portuários); e 1015 euros para a actividade de «Transporte de Valores» (TVA).